Gregor Mendel junto a freis agostinianos na igreja de São Tomás
O monge Gregor Mendel talvez seja o mais conhecido ‘Padre Cientista’ que a história já registrou. Ao descobrir as Leis da Hereditariedade que revolucionaram a Biologia e tornaram-se a base da Genética Moderna, Mendel foi reconhecido como o ‘Pai da Genética’, um título que cabe tão bem na palavra padre, que significa pai.
A palavra ‘genética’ não existia no tempo de Gregor Mendel. Hoje, o termo diz respeito ao ramo da biologia que estuda a transferência das características físicas e biológicas de geração para geração. A hereditariedade é a herança genética que recebemos de nossos antepassados, seja ela, características físicas ou, até mesmo, doenças. Graças a Mendel a humanidade pode vislumbrar conhecimentos sobre o DNA e mais recentemente, o sequenciamento do genoma humano, que abriu um novo capítulo na história das ciências da vida.

Johann Mendel nasceu no dia 20 de julho de 1822, em Heinzendorf, na época Áustria, hoje, República Tcheca, em uma família de pais agricultores.

Casa onde morou Mendel durante a infância Convento Agostiniano Canteiro onde Mendel fazia suas experiências com ervilhas
Começou a estudar com 11 anos. Aos 21 anos, no dia 9 de outubro de 1843, ingressou na Ordem de Santo; Agostinho (Agostinianos), no Mosteiro de São Tomás, em Brünn (hoje Brno), quando ganhou o nome Gregor. Ele foi ordenado padre com 25 anos, no dia 6 de agosto de 1847.
Em sua primeira paróquia depois de ordenado, teve dificuldades para o trabalho pastoral e foi encaminhado para a docência. Nomeado professor suplente do ginásio de Znaim, passou a lecionar Literatura Alemã, Latina e Grega e também Matemática. Como suplente, não conseguiu passar no exame para professor ginasial, e foi lecionar Filosofia em Ormütz. De 1851 a 1853, estudou física e ciências naturais na Universidade de Viena. De volta a Brno, passou a lecionar Física e História Natural, onde durante 14 anos, exerceu o magistério. Foi nesse período de sua vida de pesquisador científico, quando se dedicou ao estudo da Meteorologia e realizou experiências entre as variedades de ervilhas. Nessa época, Mendel tinha 34 anos e nos sete anos seguintes se dedicou à pesquisa em seu jardim no mosteiro.
Capa do artigo de Mendel “Experimentos em plantas hibridas”
No dia 8 de março de 1865, com 43 anos, Mendel apresentou seu trabalho à Sociedade de História Natural de Brno, onde divulgou as suas Leis da Hereditariedade a partir da experiência com ervilhas. Mas muitas vezes, no campo das ciências a história nem sempre é justa com os ‘grandes descobridores’ e com Mendel foi assim. Seu artigo teve pouco impacto na sua época e ficou desconhecido por mais de 35 anos.
Homem de fé, não esmorece e, no ano seguinte, publica as suas convicções no artigo científico Versuch ueber Pflanzenhybriden (em inglês, Experiments on Plant Hybridization), hoje um artigo inspirador da ciência.
Em 1868, foi eleito abade do Mosteiro de Brno, função que exerceu até a morte. Ao longo desses anos, Mendel continuou com outras pesquisas. Em 1871, iniciou experimentos de cruzamentos de abelhas, e de 1878 a 1883, foi diretor da Estação Meteorológica de Brno. Ele ficou conhecido nessa época, mais pelo seu trabalho na área da meteorologia do que com as plantas.
Morreu no dia 06 de janeiro de 1884, com 62 anos. Foi enterrado três dias depois no Cemitério Central da cidade.
Em um obituário de 1884, lê-se: “Seus experimentos abriram uma nova era”
Em 1900, os botânicos – Carl Correns (1864-1933), Hugo de Vries (1848-1935) e Erich von Tschermak (1871-1962) obtiveram resultados similares e redescobriram de modo independente o artigo de Mendel e deram-lhe o crédito sobre a descoberta, dando o seu nome para as duas leis fundamentais da genética.
Em 1900, Carl Correns registrou essa conclusão: “Eu achei que tinha encontrado algo novo. Mas então me convenci de que, durante os anos sessenta, em Brünn, Gregor Mendel não somente obteve o mesmo resultado (...), assim como o fizemos de Vries e eu, mas também deu exatamente a mesma explicação, na medida do possível, em 1866”.
As Leis da Hereditariedade de Mendel surgiram nas pesquisas que fazia em seu singelo jardim no mosteiro, entre os anos de 1856 e 1863. Ao cruzar ervilhas amarelas com ervilhas verdes, plantas altas com plantas anãs, o monge observou que as características de uma determinada planta não resultavam em um meio termo, mas eram transmitidas por hereditariedade. Os estudos de Mendel comprovaram que as características eram determinadas por pares de elementos, isto é, eram passadas de pais para filhos. Com a redescoberta de Mendel pelos três botânicos e outras pesquisas, a disciplina que estuda a hereditariedade passou a ser chamada de genética.
Letra de Mendel em um de seus experimentos

Mesmo a missão da Igreja não sendo científica e por isso, não precisar dela, a Igreja reconhece a legitimidade da ciência como um caminho válido para a busca da verdade. O Papa João Paulo II na encíclica ‘Fides et ratio’, dizia que a fé e a razão, se constituem “como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade”. Com esse entendimento, que Gregor Mendel buscou na ciência o conhecimento sobre a criação de Deus. A errônea visão romântica de Mendel em seu jardim em meio a flores e ervilhas pode ser rapidamente desconstruída ao ver o caminho árduo que ele trilhou ao pesquisar 29 mil plantas em sete anos, em uma temperatura que variava de -5°C e 20°C.
“Os meus estudos científicos têm-me proporcionado grande satisfação e estou convencido de que não vai demorar muito, até que todo o mundo reconheça os resultados do meu trabalho”. (Gregor Mendel)